26/10/2009 – 17:03
Equipamentos da mais alta tecnologia e novas técnicas de investigação ajudam peritos a encontrar vestígios do suspeito e a solucionar os delitos
Um homicídio ocorreu há poucas horas. Faixas amarelas cercam a cena do crime e delimitam até onde civis, militares e a imprensa podem chegar. Ao mesmo tempo, os primeiros policiais que chegaram ao local monitoram o cenário para preservar qualquer indício que possa ser útil para o trabalho da polícia especializada.
Quando chegam, os peritos descarregam uma parafernália de equipamentos. Eles querem encontrar vestígios do assassino. Para isso, usam pinças, lanternas com luzes capazes de identificar material orgânico, pós para encontrar impressões digitais, líquidos luminescentes que reagem em contato com manchas de sangue e, claro, a inteligência para supor os passos do suspeito antes do crime.
A sequência acima até podia ser o roteiro de mais um capítulo da série americana CSI - Crime Scene Investigation -, sucesso de audiência no mundo todo.
Especializada em uma área pouco conhecida do público, a perícia criminal, a série detalha o cotidiano de cientistas forenses, que aliam inteligência e equipamentos de alta tecnologia para solucionar crimes aparentemente perfeitos. Embora pareça uma superprodução, a situação acima descrita nada mais é que o dia-a-dia dos peritos da Polícia Técnico-Científica de São Paulo, órgão que se divide entre o Instituto de Criminalística (IC) e o Instituto Médico Legal (IML).
O IML é responsável por identificar as causas da morte com base do corpo da vítima. Já ao IC compete "revelar o enigma", ou seja, periciar e investigar suicídios e assassinatos. "Se um crime deixou vestígio, a polícia é obrigada a acionar a perícia científica", explica José Antônio de Moraes, diretor do Núcleo de Perícias em Crimes Contra a Pessoa do IC. Na prática, é praxe do setor visitar a cena do crime, averiguar as condições de topografia do local, pensar como o suspeito pensou antes de cometer o delito, fotografar possíveis indícios da ação do criminoso e recolher peças para análises, que são feitas por outros núcleos do órgão.
Ao todo, o IC possui 19 núcleos, sendo que um deles compreende divisões regionais pelo interior do Estado, nas cidades de Araçatuba, Araraquara, Bauru, Campinas, Marília, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, Santos, São José dos Campos, São José do Rio Preto e Sorocaba. Cada núcleo é independente e possui autonomia para emitir laudos, porém é comum um setor colaborar o outro na apuração de um caso. Quando um cartucho usado é encontrado, por exemplo, ele é recolhido e enviado para o Núcleo de Balística avaliar. "Se o perito encontra um saco plástico suspeito em um suposto caso de suicídio por envenenamento, ele recolhe o material e envia para o Núcleo de Análise Instrumental, que vai checar se a substância realmente é veneno", explica Moraes.
O Núcleo de Perícias em Crimes Contra a Pessoa possui 12 peritos que se revezam 24 horas por dia e todos os dias da semana. "Não paramos nunca. Não tem Natal, Ano Novo ou Carnaval. Os crimes podem acontecer a qualquer hora", diz Moraes, que é perito criminal há 45 anos. "Cada perito atende, em média, um caso a cada duas horas", completa.
Alta Tecnologia
A Polícia Técnico-Científica de São Paulo possui ferramentas de última geração para descobrir pistas dos crimes. Cada perito carrega consigo uma lanterna que emite uma luz azul, a Blue Maxx (instrumento idêntico àquele dos filmes policiais americanos), capaz de identificar resquícios orgânicos da vítima ou do suspeito - como pedaços de pele, unhas, sangue ou fios de cabelo - no local do crime.
Além da lanterna, o perito tem à disposição duas maletas. Uma delas possui quatro óculos e sete lanternas de LED, uma tecnologia que oferece luzes de diferentes comprimentos de onda (desde o ultravioleta ao infravermelho) para refinar as buscas. Já na outra maleta, há pós e líquidos para identificar marcas de sangue, encontrar sêmen (vestígio comum em caso de estupro) e buscar impressões digitais.
Se o perito considerar que todos esses recursos não forem suficientes para ajudar a esclarecer o caso, ele pode utilizar o Crime Scope - um aparelho americano avaliado em US$ 15 mil que emite luz ultravioleta de alta potência. Geralmente, o equipamento é usado em situações que exigem um rastreamento de uma área muito grande. O caso mais emblemático que demandou o uso do Crime Scope foi o acidente da TAM em julho de 2007 no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
Laudos
Tudo o que os peritos apuram na cena de um crime se tornam laudos. Em 2008, o IC emitiu quase 470 mil laudos periciais - o equivalente a, praticamente, 53 por hora. "Cada laudo que fazemos é como uma tese que vamos defender e, por isso, precisa ser muito bem fundamentada. Amanhã, as informações contidas no laudo podem ser questionadas", afirma Moraes. Segundo o diretor, quando começa a investigar uma história, o perito "casa com o caso". Isso significa que, no futuro, ele será responsável por eventuais questionamentos sobre aquele documento.
O tempo de conclusão de um laudo varia conforme o caso. Por lei, o documento deve ser emitido em dez dias e, em caso de flagrante, em cinco dias. Mas, segundo o diretor do Núcleo de Perícias em Crime Contra a Pessoa, é impossível cumprir o prazo por causa dos testes complementares. "Alguns exames exigem mais tempo para ficarem prontos. É o caso do teste de DNA, que dura em média 30 dias para ser finalizado", exemplifica.
Como virar perito
O primeiro requisito para se tornar um membro do Instituto de Criminalística é ter curso superior de graduação em qualquer área. Depois disso, é preciso enfrentar um concurso público, realizado esporadicamente, cuja concorrência se aproxima dos 80 candidatos por vaga. Depois de aprovado, o candidato passa por um curso de treinamento com duração de um ano dentro da própria polícia. Ao terminar a capacitação, o aluno escolhe em qual núcleo do IC quer trabalhar. Se houver vaga disponível, ele assume a função.
Peritos tem à disposição equipamentos de última geração, como o Crime Scope, usado para para fazer varreduras e identificar vestígios de material orgânico
Lanterna com luz especial para identificar restos mortais e maletas com pós, líquidos e outros acessórios para encontrar provas
'Se um crime deixou vestígio, a polícia é obrigada a acionar a perícia científica', diz José Antônio de Moraes, diretor do Núcleo de Perícias em Crimes Contra a Pessoa
Perita manuseia substância em análise no Núcleo de Análise Instrumental; ao todo, são 19 núcleos no Instituto de Criminalística
Perito do Núcleo o Balística examina arma; a alta tecnologia está à disposição dos funcionários para esclarecer os crimes
Para se tornar perito, é preciso ter curso superior em qualquer graduação, superar concurso público e passar por treinamento de um ano
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