01/03/2010 - 19:14
Buscando a integração e resocialização de crianças em situação de risco, casos de menores infratores diminuíram
Thamia Tavares
O Imparcial Online
Em tempos de aumento na onda de violência, principalmente envolvendo crianças e adolescentes, ações que buscam o enfrentamento dessa realidade viram escudo para os jovens. No município de Coelho Neto, a 360 km da capital, existe um bom exemplo.
Idealizado pela juíza da comarca, Karla Jeanne, o Projeto Compartilhar busca a integração e resocialização de crianças em situação de risco, após um ano da criação, os primeiros reflexos já podem ser visto: casos de menores infratores no município diminuíram em 50%. Além da assistência aos menores infratores, o Projeto beneficia crianças vítimas de abuso sexual e vítimas de exploração do trabalho infantil. Hoje, aproximadamente 140 crianças de 6 a 8 anos, participam das ações.
“Não adianta julgar uma criança tendo em vista somente o processo. A própria infração cometida é um reflexo de algo, normalmente um resultado do contexto familiar e social que esta criança está inserida”, disse a juíza.
Os crimes mais comuns cometidos por esses jovens são pequenos furtos, que na opinião da juíza “não deve ser uma conduta a se desconsiderar”. Visto que há uma repetição dos crimes cometidos com tendência a intensificar tanto com relação à violência empregada, quanto à qualidade do crime. “Tivemos de imaginar uma forma de trabalhar essas crianças para que não voltem a cometer infrações, o que é recorrente”, observou a juíza.
Sobre o Projeto Compartilhar
O processo de cada criança e a respectiva infração eram as únicas informações que a comarca dispunha. Então um banco de dados foi montado para um aprofundamento nas informações relativas a cada menor. Uma lista com os nomes das crianças foi feita, resultando em aproximadamente 500 menores.
Partindo do princípio de que a recuperação e reinserção de crianças em situação de risco na sociedade não são de responsabilidade das comarcas e sim da própria sociedade, um segundo banco de dados foi solicitado para os voluntários. Uma rede de voluntários foi criada para agregar os diferentes grupos sociais que manifestassem interesse em ajudar as crianças.
Atividades lúdicas foram desenvolvidas para ocupar as crianças e mantê-las próximas, bem como contribuir para a formação. Uma escolinha de informática foi montada dentro do prédio da comarca, sendo formada a primeira turma composta de voluntários e alunos. Posteriormente uma escolinha de futebol e de capoeira foram criadas. “Estamos montando um coral que desperta muito o interesse das meninas”, disse a magistrada.
Participação voluntária
Até o momento o projeto conta com 53 voluntários. “Há crianças em situações mais complicadas que resistem a participar, até carinho e afeto elas recusam. Nesses casos a abordagem deve ser diferenciada e o principal atrativo para essas crianças são as próprias atividades”, disse a juíza.
O projeto conta somente com a participação dos voluntários, inclusive as atividades são realizadas em espaços do município e do estado. A distribuição das merendas e feita pela prefeitura do município. O próximo passo é a construção de um espaço próprio, destinado ao projeto e expandir as ações aos municípios termos da comarca de Coelho Neto: Afonso Cunha e Duque Barcelar.
Reconhecido, o projeto foi premiado pela associação dos magistrados. O presidente do tribunal judiciário do Maranhão, o desembargador Jamil Gedeon, manifestou interesse no projeto e pretende visitar o município de Coelho Neto em meados de abril para conhecer pessoalmente as ações desenvolvidas.
Quem participa do projeto
Um caso interessante é o de uma criança que foi abusada aos 6 anos e ela mesma solicitou ao conselho tutelar a inclusão o projeto.“As crianças vítimas de estupro são muito reprimidas”, contou a magistrada. No questionário dos voluntários é feita a pergunta sobre a motivação da pessoa para ser voluntária e uma das respostas obtidas foi: “Se eu conseguir ajudar ao menos uma pessoa já estarei satisfeita”.
Houve o caso de um voluntário que teve a carteira furtada durante a realização de uma atividade, o voluntário suspeitou de uma criança, e conversou com o menor que devolveu o objeto furtado, “nós pensamos que o voluntário não iria voltar, mas ele virou para mim e disse: ‘ a senhora nunca me disse que seria fácil’, disse a juíza. Qualquer voluntário pode sugerir a inserção da criança no projeto.
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