11/10/2009
Postado por: Padre Bantu Mendonça K. Sayla
17 E, pondo-se a caminho, correu para ele um homem, o qual se ajoelhou diante dele, e lhe perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? 18 E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus. 19 Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe. 20 Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade. 21 E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me. 22 Mas ele, pesaroso desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades. 23 Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! 24 E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus! 25 É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus. 26 E eles se admiravam ainda mais, dizendo entre si: Quem poderá, pois, salvar-se? 27 Jesus, porém, olhando para eles, disse: Para os homens é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis. 28 E Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos, e te seguimos. 29 E Jesus, respondendo, disse: Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho, 30 Que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no século futuro a vida eterna.
Um jovem rico, piedoso e observante dos mandamentos encontrou-se com Jesus. Chamou-o “Mestre” e desejava possuir a vida eterna. Para conseguir essa meta observava os mandamentos com perfeição. Jesus o olhou com amor e, então, pronunciou o convite exigente: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me”!
A tristeza entrou no coração desse jovem rico. A riqueza o impediu de seguir Jesus, porque é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!
Impressiona-nos o fato de que este jovem era perfeito no cumprimento dos mandamentos de Deus e, além disso, merecera o olhar amoroso de Jesus porque buscava com decisão progredir no caminho de Deus. Mas o cumprimento dos mandamentos convivia nele com a riqueza, transformada em ídolo que lhe dava segurança. Jesus lhe ofereceu a possibilidade de ser livre, para que o Reino de Deus ocupasse todos os espaços de sua vida. Ele preferiu a segurança de seus bens. Para não perder o pouco que possuía, perdeu o tesouro infinito da vida com o Senhor.
O discípulo de Jesus dá valor ao que o mundo despreza. Para possuir a sabedoria e viver de modo prudente, considera os cetros e os tronos, a riqueza, as pedras preciosas, a prata e o ouro do mundo, a saúde e a beleza, como um punhado de areia (cf Sb 7,7-11). Ele faz como fizeram os apóstolos que deixaram tudo para seguir Jesus e, por isso, receberam “cem vezes mais”: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida – casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições – e, no mundo futuro, a vida eterna“.
Estando às próprias palavras de Jesus, compreendemos que Ele pede as mesmas condições para todos os que querem seguí-lo. Tais condições não são diferentes para os que se consagram a Deus no celibato, para os que são chamados ao sacerdócio ministerial, ao diaconato permanente ou à vida de casados. Ao propô-las Jesus se dirigiu às “grandes multidões”, como nos atesta o evangelista Lucas.
As observâncias religiosas não são o essencial no projeto de Deus. A opção fundamental, necessária, é o desapego das riquezas e a superação das injustiças que decorrem das estruturas sócio-econômicas de acumulação das riquezas. Em contraste com este rico, segue-se o testemunho de Pedro, representando a comunidade de discípulos, que, com sabedoria, professa sua fé neste seguimento, declarando seu desapego de tudo.
É a força da Palavra de Deus, “mais penetrante que qualquer espada de dois gumes”, que é capaz de extirpar a ambição das riquezas, gerando o amor ao próximo. É o caminho do seguimento de Jesus na construção do mundo novo de justiça e paz.
Evidencia-se a proposta da rejeição desta estrutura social, dividida entre privilegiados e excluídos, com a inversão entre os “primeiros” e os “últimos”. É um projeto que contraria a acumulação capitalista privada resultante da exploração do trabalho dos pequenos empobrecidos. Este projeto, assumido por causa de Jesus e do Evangelho, suscitará a perseguição dos poderosos beneficiários do projeto de acumulação financeira em um mercado global.
O projeto de Jesus, em andamento, significa a inserção na vida eterna do “mundo futuro”. É a concretização do sonho de um mundo novo, na paz da comunhão com a natureza, com o próximo e com Deus. E o caminho seguro do seguimento de Jesus está na prática diária da Palavra de Deus. A Carta aos Hebreus hoje nos lembra: “A Palavra de Deus é viva, eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes. Penetra até dividir alma e espírito, articulações e medulas. Ela julga os pensamentos e as intenções do coração. E não há criatura que possa ocultar-se diante dela. Tudo está nu e descoberto aos seus olhos, e é a ela que devemos prestar contas” (Hb 4,12-13).
Vivendo assim entenderemos também que a prática perfeita dos mandamentos do Senhor tem um valor profundo, se a nossa vida é colocada inteiramente nas mãos do Senhor e não na segurança de nossas próprias riquezas. Se queremos ver o mundo mudar a sua avaliação das coisas, não podemos deixar de responder ao apelo de Jesus no evangelho de hoje: “vá, venda tudo o que tem e dê o dinheiro aos pobres e assim você terá riquezas no céu”!
Senhor Jesus, reforça minha liberdade interior de forma que nada, neste mundo, me impeça de cumprir a vontade do Pai.
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