01/03/2010 – 15:31
O comandante-geral da PM, coronel Mário Sérgio, já havia decidido ontem mesmo exonerar do comando do 5o Batalhão da PM (Praça da Harmonia) o coronel Carlos Henrique Alves de Lima, que aceitou negociar com bandidos seu carro roubado, um Honda Civic, ano 2007, com ele ao volante, acompanhado da mulher. Para isso, enviou seu motorista, o cabo Guttemberg, que acabou sendo morto pelos bandidos e ficando sem os R$ 2 mil dados pelo superior dele, para tentar reaver o automóvel. O coronel Mário Sérgio invalidou também a transferência de Carlos Henrique para o Batalhão da Polícia Rodoviária, prevista desde a semana passada.
A história ainda está cheia de buracos e sendo apurada pela Corregedoria da PM. Mas em resumo o coronel da PM, comandante de uma unidade, cometeu o erro mais absurdo que um policial pode cometer: negociar com criminosos fora de uma situação de risco ou de reféns. Para um policial experiente acreditar na palavra de bandido é um grave indício de que ele também é cúmplice de bandidos. Já vi isso acontecer com oficiais da Marinha negociando com traficantes da Ilha do Governador munição desviada de um quartel, na década de 80. Dei esse furo na época, no JB.
Hoje o furo foi do repórter Eduardo Tchao, da Rede Globo, que deu a história com a exclusividade no Bom Dia. Só não deu no Fantástico por causa do terremoto no Chile, que já matou quase 800 pessoas.
Lamentável a Polícia Militar do Rio ter no comando de unidades um oficial como esse. No ano passado, a OAB de Cabo Frio, por meio de seu presidente, Eisenhower Dias Mariano, já havia alertado que o coronel Carlos Henrique não deveria assumir o batalhão de Cabo Frio porque tem uma mancha em seu currículo - um processo criminal, no qual foi acusado de ligações com o bicheiro Castor de Andrade.
- Esse novo comandante já chega com uma mancha do passado, com a vinculação no jogo do bicho. Nós não queremos mais ninguém com passado no comando, queremos pessoas que possam efetivamente assegurar a segurança pública para a sociedade de Cabo Frio - disse Eisenhower, à época.
Na ocasião, a PM garantiu que Carlos Henrique não devia mais nada à Justiça. Portanto, ele foi alçado ao posto de comandante do 5o BPM.
O mais grave de tudo que a decisão do coronel Carlos Henrique de negociar com criminosos resultou na morte de um policial militar. Pode parecer exagero, mas o episódio reflete um pouco uma tendência geral em corporações como a PM, em que os oficiais têm pouco apreço pela vida dos praças. Não há uma parceria. Em geral, com raras exceções, os oficiais maltratam os subordinados a ponto de a vida desses não ter mais nenhum valor. A ponto de entregá-los como ovelhas aos lobos.
Saiba mais no site do GLOBO
Segunda Edição
Esse post está sendo atualizado hoje, dia 2 de março, com a versão do coronel Carlos Henrique Alves de Lima
O coronel Carlos Henrique contou a repórteres do GLOBO que sua mulher, sua irmã e sua sobrinha iniciaram as negociações com os traficantes para a devolução do Honda, por meio do radiotransmissor do coronel, que também foi levado pelos bandidos. Os criminosos exigiram R$ 2 mil de resgate do carro.
- São umas malucas. É um absurdo, mas quando cheguei em casa elas já tinham ido pegar o carro. Minha mulher estava se sentindo culpada porque perdeu a vistoria do Detran e temia que o seguro não fosse pagar a indenização - disse o oficial.
O coronel disse ainda que os bandidos teriam dito que devolveriam o carro em frente à estação de trem de Costa Barros.
- O cabo era meu vizinho e meu amigo. Foi comigo e sem ser obrigado. Fui fazer uma ação de polícia e proteger minha família - disse Carlos Henrique.
As minhas dúvidas:
1) Como a mulher, a irmã e a sobrinha do coronel tomaram a iniciativa de fazer contato com os ladrões do carro e o coronel só ficou sabendo depois que estava tudo combinado? Se não consegue tomar conta do que acontece na casa dele, como vai cuidar de um batalhão da PM?
2) Por que o coronel não impediu que o acordo entre sua mulher e os bandidos fosse imediatamente suspenso? Não conseguiu entrar em contato por celular? Esqueceu o celular da própria mulher? Ou ela deu uma bola nas costas dele e deixou o celular desligado em casa? Essa senhora me parece mais esperta que um comandante da polícia.
3) Sem conseguir contato com a mulher, por que o coronel decidiu ir sozinho para o local do suposto encontro com os bandidos, levando apenas dois policiais?
4) Por que o coronel não procurou uma delegacia de polícia para registrar queixa do roubo do automóvel e depois pediu auxílio da própria corporação para tomar as providências legais e cabíveis?
Se o coronel Carlos Henrique se dispuser a responder a essas perguntas e outras eventualmente feitas pelos leitores, tem o espaço que precisar aqui no blog para limpar sua imagem, que ficou mais suja do que pau de galinheiro.
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