Projeto piloto será usado em Canoas a partir de agosto, diz Ministério da Justiça.
Governo federal quer o software nas 12 cidades sedes da Copa de 2014.
Glauco Araújo Do G1, em São Paulo
A cidade de Canoas (RS) vai abrigar um projeto piloto do Ministério da Justiça (MJ) a partir de agosto deste ano. Trata-se de um sistema de sensores acústicos que detecta disparos de arma de fogo em tempo real. Trinta e três sensores serão instalados no bairro Guajuviras, que registrou 50 mortes violentas em 2009, de um total de 126 homicídios no município. O bairro tem 70 mil dos 332 mil moradores de Canoas e é considerado o mais populoso e violento da Região Metropolitana de Porto Alegre.
Caso a tecnologia ajude a reduzir o número de homicídios, ela poderá ser usada pelo Governo federal nas 12 cidades que sediarão os jogos da Copa do Mundo de 2014.
O equipamento é o mesmo usado em 50 cidades nos Estados Unidos. O acordo de implantação do sistema na cidade gaúcha foi assinado, no começo de fevereiro, entre a prefeitura de Canoas, a secretaria de segurança do município e o Ministério da Justiça. O projeto piloto prevê investimento de R$ 2 milhões do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).
De acordo com Alberto Kopittke, secretário de segurança de Canoas, 85% dos homicídios registrados na cidade foram cometidos com arma de fogo. “De 2005 até o ano passado, o índice de mortes violentas crescia, a cada ano, cerca de 30%. Apenas em 2009, quando Canoas foi incluída no projeto Território de Paz (iniciativa do Governo federal de fortalecimento do policiamento comunitário e ações sociais em áreas com índice elevado de violência) é que o crescimento ficou estável.”
Ele disse que o índice de solução desse tipo de crime na cidade é baixo, ficando perto dos 10%. “Estamos fazendo o cruzamento dos dados das ocorrências para qualificarmos as informações de cada um dos casos. Esse trabalho, aliado ao uso do sistema de detecção de disparo de arma, pode fazer cair o número de homicídios na cidade”, disse Kopittke.
O sistema não identifica o autor do disparo, mas aponta a localização exata e o deslocamento do atirador, caso ele efetue mais de um tiro. "As informações do programa vão ajudar a Polícia Civil a esclarecer essa dúvida nos inquéritos e elevar o número de soluções de crimes contra a vida", afirmou o secretário municipal de segurança.
Tecnologia
Segundo Roberto Motta, consultor da American Security International, empresa responsável pela fabricação do sistema nos Estados Unidos e agora também no Brasil, o equipamento é calibrado para captar o som dos disparos de arma de fogo, diferenciando os ruídos parecidos com o de uma arma, como fogos de artifício, escapamentos de veículos e bombas, e ainda identifica o calibre e o tipo de arma usada.
“Em até 12 segundos, os sensores farão o cruzamento das informações e identificarão o epicentro das ondas sonoras. A localização exata de onde ocorreu o disparo será enviada para uma central de monitoramento, onde um policial repassará os dados para as equipes de policiamento mais próximas do evento criminoso”, disse o secretário de segurança de Canoas.
Ainda de acordo com Motta, o índice de acerto do software no Brasil é estimado em 80%. Nos Estados Unidos, o cálculo de acerto já chega a 95%. A empresa registrou aumento médio de 50% no número de prisões relacionadas a tiros nas cidades com a tecnologia e a incidência de disparos foi reduzida entre 60% e 80%.
Em Canoas, o monitoramento das informações do sistema será feito na Central Integrada de Monitoramento do Gabinete de Gestão Integrada Municipal. “O importante é que o gerenciamento vai permitir que mais policiamento seja feito nas áreas apontadas pelo sistema. A polícia será mais preventiva do que reativa”, disse Kopittke.
Não é a solução
Segundo Giana Guelfi, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade de São Paulo, o equipamento com sensores acústicos não será a solução plena para a redução dos casos de homicídios em Canoas ou em qualquer cidade em que a tecnologia venha a ser adotada. “Isso não vai coibir necessariamente a violência em uma região, nem mesmo garantir a redução do número de homicídios. É preciso levar em conta outros fatores sociais e de infraestrutura local.”
Ela afirmou ainda que já esteve na cidade de Canoas e entende que a região precisa de atenção específica em questões como ofertas de lazer e de trabalho, por exemplo. Segundo Giana, esses são alguns dos fatores que desencadeiam a violência. “O policiamento precisa ser comunitário e é preciso saber como a polícia trabalha cada caso de violência. De qualquer forma, é correto afirmar que o uso desses sensores pode fechar uma torneira na segurança local.”
Giana lembra que não é só a arma de fogo que mata. “Há outras ocorrências policiais que precisam ser levadas em conta, como furtos, roubos, estupros e latrocínios. Por ser um projeto piloto, não é possível saber se o resultado desejado será alcançado.”
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