Em janeiro deste ano Caetano Veloso disse que prefere “Psirico a Beyoncé”, afirmação que estou inteiramente de acordo, mesmo não sendo fã ou mesmo admirador incisivo da banda baiana. Foi uma frase polêmica, pois temos por cá o talento colonial de ver enaltecido o que é cultivado no estrangeiro, independentemente de qual produto estamos nos referindo. Mas deixemos de lado, por enquanto, os gostos artísticos pessoais, e passemos a outra frase, agora uma manchete, que também vem gerando polêmica, também envolvendo a banda baiana: “PM’s dançam hits do Psirico para enfrentar carnaval de Salvador“.
Trata-se de uma matéria publicada na Rede Globo, onde aparecem imagens de policiais militares baianos realizando ginástica laboral embalados ao som da Banda Psirico, antes de atuarem no Carnaval de Salvador. Alongamento e aquecimento são realizados, tendo o bastão policial (tonfa) como um dos instrumentos facilitadores dos movimentos.
Veja abaixo o vídeo onde os policiais aparecem fazendo a ginástica:
“Rídiculo” e “vergonhoso” foram alguns adjetivos dados à prática, sob o argumento de que os policiais e a Polícia Militar da Bahia, enquanto instituição, estaria desrespeitada com tal prática. PM’s? Fardados? Dançando? Um absurdo!
O primeiro aspecto a ser observado é que a atividade foi proposta pela Corporação, antes dos policiais começarem efetivamente a atuar nas ruas. Os policiais não estavam em patrulha, no circuito do Carnaval, dançando ao som das músicas tocadas nos trios elétricos – ao mesmo tempo em que precisavam estar atentos para reprimir qualquer tipo de conduta delituosa.
A idéia é fazer com que os policiais estejam relaxados e dispostos para o serviço do Carnaval, descontraídos e sem as amarras que levam a excessos e arbitrariedades. Já participei de trabalhos semelhantes em outros eventos, enquanto aluno-a-oficial, e a descontração do efetivo realmente ocorre – efeito parecido com o que o Grupo de Teatro que a PMBA dispõe proporciona, com suas apresentações irreverentes.
Mas a reação de boa parte da tropa ao julgar a atividade traz à tona um conservadorismo persistente em nossa cultura, que confunde seriedade com brutalidade, profissionalismo com antipatia e respeito com medo. Talvez por ainda não exercermos em plenitude esses princípios, apelamos para a manutenção daqueles desvios, que a sociedade tanto clama por extinguir.
É uma pena que esse tipo de postura, vanguardista, ainda não esteja com a capilaridade necessária para que seja feita em todos os serviços das PM’s brasileiras. Talvez não a mesma atividade, mas os princípios nela imbuídos, com a visão de um policial trabalhando mais ameno e menos estressado. A própria PMBA deveria reservar uns poucos minutos anteriores ao serviço ordinário com esse objetivo.
“Acabaram com minha polícia”, ouvi dizer. Possivelmente a afirmação é verdadeira, pois a polícia hermética, voltada a si própria e alheia ao relacionamento com o cidadão deve acabar. Esse é um clichê no qual não se pode mais investir, sob pena de definharmos enquanto instituição.
É uma pena que a ginástica laboral seja muito pouco para que o panorama mude. Mais importante, e difícil, é mudar a cultura, que equivale a mudar os homens. Talvez, se tocassem Beyoncé em lugar de Psirico, a polêmica não fosse tanta.
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