21/05/2009 -23:41
Bastidores do tráfico
Para ter lucro, traficantes misturam droga com talco, cimento, gasolina, creolina e até vidro. Entenda como funciona a produção e comercialização na capital
Michel Sousa
O Imparcial Online
"Eu só compro cocaína no Bairro de Fátima. Lá não é misturada", revela George*. Assim como outros usuários, ele valoriza a pureza da droga. Quanto menos misturada, mais cara. Essa é a realidade desse mercado. De acordo com o Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc), a lucratividade dos traficantes vem de um único fator: a mistura das drogas com outras substâncias. O objetivo é aumentar o volume do produto e, consequentemente, a quantidade a ser vendida. A cocaína, por exemplo, em São Luís, é misturada a várias substâncias - talco, cimento, porcelana raspada e até vidro em pó.
O crack e a merla são obtidas a partir de sobras do refino da cocaína. Em seguida, misturadas a creolina, querosene, gasolina e formol. A reportagem ouviu um ex-traficante que atualmente trabalha com a reabilitação de jovens drogados, no Projeto Restauração, apoiado pela Igreja Batista do Angelim. Baltazar* diz que, depois de misturadas, a droga é dividida em pequenas quantidades. Isso ajuda na hora de esconder e também de vender o produto. "Para garantir mobilidade, era dividida em pacotinhos e repassada a pequenos vendedores. E não é qualquer um que pode ocupar o cargo (de vendedor). Tem que agüentar pressão", revelou ele, que está há seis anos longe do tráfico.
A hierarquia do tráfico
Segundo o Denarc, existe uma divisão de tarefas nas "Bocas de Fumo". Tudo começa com o "olheiro". Ele é responsável por avisar sobre qualquer movimento suspeito nas proximidades, seja a presença de desconhecidos ou ações da polícia. Os "aviões" vendem as drogas, geralmente, em locais próximos à própria boca de fumo. Mas, em alguns casos, comercializam em outros bairros. O "Gerente" é responsável pelo andamento do tráfico na região dominada. É o número dois no comando da "boca". Outro cargo importante são os "endoladores". A tarefa deles é preparar a mistura adicionada à droga, assim como empacotar e contabilizar os papelotes ou cigarros obtidos. Cada "boca" possui até 20 'soldados', que zelam pela proteção e ordem dos locais dominados por traficantes. Estão na linha de frente. Por isso, são presos ou mortos com mais facilidade.
A população na luta contra o Tráfico
Denuncias anônimas têm tido papel fundamental no combate ao tráfico de drogas em diversos bairros de São Luís. De acordo com dados do Disque-Denúncia, graças à ajuda da população, diversos traficantes foram presos e "bocas de fumo" desmanteladas. O caso mais recente ocorreu na 3ª Travessa José Sarney, no Bairro de Fátima, no dia 15 de maio. Com o apoio da central de denúncias, o Denarc conseguiu efetivar a prisão de Frankylson Silva Dias, 21 anos, o "Mosquito". Com ele foram encontrados cerca de um quilo de pasta base de cocaína, 40 trouxinhas de cocaína e duas balanças de precisão.
Campeões de denúncias
O tráfico de drogas é responsável por 32,5% do número de denúncias recebidas na central de atendimento do Disque-Denúncia e ocupa o primeiro lugar em chamadas. Os bairros mais denunciados são: Cidade Operária com (6,27% das ligações), Anjo da Guarda (4,49%), Coroadinho (4,44%); São Francisco (4,26%) e Cidade Olímpica (4,08%). Por isso, o Disque Denúncia incentiva a participação da população na luta contra o tráfico. As denuncias podem ser feitas pelo telefone 3223-5800, na capital. Ou, 0300-31-35-800, no interior.
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