Secretaria da Segurança Pública divulgou dados sobre violência doméstica.
No sábado, manicure levou sete tiros do namorado, em Osasco.
Do G1 SP, com informações do Fantástico
O que aconteceu na manhã de sábado (29) em Osasco, na Grande São Paulo, não tinha nada de ficção. Dentro de um salão de beleza, no Centro da cidade, um ex-policial, de 42 anos, tentou matar a namorada, a manicure Suzete de Oliveira, de 52 anos.
Segundo a polícia, o ex-PM, antes de vir para o salão, ligou para a vítima. Quando ele chegou ao salão, Suzete ainda tentou se esconder. Armado, ele disparou várias vezes. Pelo menos, cinco tiros atingiram a manicure.
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Suzete foi internadas às pressas no Hospital Regional de Osasco e, segundo familiares, ela está fora de perigo. O atirador está foragido. “Acho que ele estava pressionando ela e ameaçando. Se terminasse, ia fazer alguma besteira”, disse Salomão de Oliveira, filho da vítima.
As vítimas desta violência doméstica vivem na pele o drama da personagem Celeste, da novela “Fina estampa”. No mundo real, as brasileiras contam com o apoio da Central de Atendimento à Mulher. É só ligar para o número 180. Em cinco anos, o serviço recebeu quase dois milhões de ligações. A maior parte feita por mulheres de São Paulo, Bahia e Minas Gerais.
Na maioria das vezes, são as próprias vítimas que criam coragem para fazer a denúncia. É o que mostram os telefonemas registrados pela Polícia Militar de São Paulo.
Mulher: Meu marido está me espancando!
Policial: Seu marido está embriagado?
Mulher: Não, é porque eu terminei com ele e ele não aceita o término do namoro, porque ele ficava me humilhando, me xingando.
Policial: Ele agrediu você?
Mulher: Agrediu, veio para cima de mim e bateu a minha cabeça na parede.
Uma delegacia da Zona Leste de São Paulo registra dez casos de violência doméstica por dia. A reportagem do Fantástico acompanhou um deles. Ela é auxiliar de enfermagem, tem 32 anos e decidiu de sair de casa com o filho de 4 anos e procurar a polícia. Durante mais uma das muitas brigas com o ex-marido, ela cortou a mão esquerda ao bater em uma porta de vidro.
“Ele começou a me xingar de prostituta e de vaca, falou que tinha que fazer comigo o que se faz com uma galinha, pegar uma faca e cortar o pescoço, porque assim eu ia embora e desaparecer de vez da frente dele”, relatou a auxiliar de enfermagem, que voltou para casa acompanhada de duas investigadoras.
Fantástico: Você veio buscar as suas coisas aqui. Daqui você vai para onde?
Auxiliar de enfermagem: Para a casa da minha mãe.
Fantástico: Hoje vocês brigaram? Foi na frente do seu filho?
Auxiliar de enfermagem: Foi na frente do meu filho. Ele falou esses dias para minha mãe: ‘Vovó, deixa a gente morar com você, que eu não quero voltar para aquela casa feia’. Isso não é uma coisa de uma criança de 4 anos falar.
De volta à delegacia, a mãe foi amparada pelo filho. A decisão de procurar a polícia é só o começo. Para que o companheiro seja punido, a vítima tem que fazer uma representação contra ele.
Um dado oficial do governo federal mostra que 40% das vítimas que fazem a denúncia convivem com o agressor há mais de dez anos. A atriz Dira Paes, que faz o papel de Celeste, acredita que denunciar o companheiro é mais difícil do que parece.
“A pergunta que eu mais ouvia nas ruas era: ‘Quando é que você vai denunciar esse homem? Quando é que você vai parar de apanhar?’. E eu acho isso incrível, porque é o desejo de todo mundo, mas não é fácil para quem está dentro do furacão”, comentou a atriz Dira Paes.
Ainda na delegacia, a auxiliar de enfermagem de São Paulo decide formalizar a denúncia contra o marido. “Vou mandar para o fórum o pedido para que ele não se aproxime e que não mantenha contato. É a abertura do processo”, explica a delegada Jocileide Caetano de Souza. “Ele me deu um tapa uma vez e um empurrão”, conta a auxiliar.
“A violência pode ser crescente. Hoje um empurrão, amanhã socos e nós não sabemos se pode até acontecer um homicídio”, alerta a delegada Jocileide Caetano de Souza.
Desde 2006, quando a Lei Maria da Penha entrou em vigor, mais de 11 mil homens que agrediram suas companheiras foram parar na cadeia no Brasil. Segundo a Justiça, os principais motivos da violência doméstica são álcool e drogas.
A juíza Elaine Cavalcanti só julga casos envolvendo crimes contra as mulheres na cidade de São Paulo. É em uma sala que ela faz as audiências e fica frente a frente com agressor e vítima.
“Eles raramente chegam a pedir perdão para a mulher. Acho que a maioria nega, poucos acabam admitindo e sentindo arrependimento e vergonha pelo ato cometido”, afirmou a juíza Elaine Cristina Cavalcanti, da vara especializada em violência doméstica contra mulher.
Alexandre Nero, que interpreta o marido violento, diz que a novela serve de alerta. “É importante que as pessoas consigam enxergar na televisão seu espelho. Quer dizer, ali está acontecendo coisas que estão acontecendo aqui em casa. Esse homem existe aqui dentro da minha casa ou na casa da minha vizinha”, comentou o ator.
Para a juíza Elaine Cristina Cavalcanti, o personagem Baltazar tem que ser punido. Ao ser questionada pela reportagem sobre que pena ela daria a ele, ela afirmou: “Depende, porque ali foram agressões continuadas. Então, a pena dele teria que ser calculada considerando todas as agressões que ele foi cometendo ao longo do relacionamento com aquela mulher”.
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