Jo 13,31-33a.34-35
Quando Judas saiu, Jesus disse:
- Agora a natureza divina do Filho do Homem é revelada, e por meio dele é revelada também a natureza gloriosa de Deus. E, se por meio dele a natureza gloriosa de Deus for revelada, então Deus revelará em si mesmo a natureza divina do Filho do Homem. E Deus fará isso agora mesmo. Meus filhos, não vou ficar com vocês por muito tempo. Eu lhes dou este novo mandamento: amem uns aos outros. Assim como eu os amei, amem também uns aos outros. Se tiverem amor uns pelos outros, todos saberão que vocês são meus discípulos.
COMENTÁRIO 1
Muitas pessoas hoje demonstram desânimo. As notícias são deprimentes. Guerras intermináveis, sempre sendo inflamadas por baixo das brasas. Populações africanas que são extintas pela fome, pelas epidemias. Cruéis guerras religiosas na Ásia, na Indonésia. Extermínio das crianças meninas na China. Violência em nossos bairros e cidades, corrupções em nossas instituições.
Existe alguém que pode dar um novo rumo a este mundo? A resposta é: você mesmo, mas não sozinho. Alguém faz aliança com você. Ou melhor: com vocês, como comunidade. E em sinal dessa aliança, deixou-lhes um exemplo e modo de proceder: um novo mandamento. “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”, isto é, até o fim, até o dom da própria vida, seja vivendo, seja morrendo. É o que nos recorda o Evangelho de hoje.
Não há governo ou poder que possa nos eximir deste mandamento. Só se o assumirmos como regra de nossa vida o mundo vai mudar. Não existe um mundo tão bom e tão bem governado que possamos deixar de nos amar mutuamente com ações e de verdade. Mas, por mais desgovernado que o mundo seja, se nos amarmos mutuamente como Jesus nos tem amado, o planeta vai mudar.
Por que então, depois de dois mil anos de Cristianismo, o mundo está tão ruim assim? A este respeito pode-se fazer diversas perguntas, por exemplo: Será que os homens se têm amado suficientemente com o amor que Jesus nos mostrou? E como seria a terra se não tivesse existido um pouco de amor cristão? Não seria bem pior ainda?
O Apocalipse, lido nas liturgias deste tempo pascal, muitas vezes é considerado um livro de terror e de medo. Mas, na realidade, ele termina numa visão radiante da nova criação, da nova Jerusalém, simbolizando a indizível felicidade, a ”paz” que Deus prepara para os que são fiéis ao novo mandamento do seu Filho (2ª leitura). A nova Jerusalém é o povo de Deus envolvido pelo esplendor, ainda escondido, do amor de Cristo, que o torna radiante, como o amor do noivo torna radiante a sua amada. Quem é amado e se entrega ao amor, torna-se amor.
É isso que deve acontecer entre nós. Jesus nos amou até o fim. Nossa comunidade eclesial deve transformar-se em amor, irradiando um mundo infeliz e desviado por interesses egoístas e mortíferos. Em vez de ver somente o lado ruim da Igreja – talvez porque nosso olho é ruim -, vamos tratar de vê-la como uma moça um tanto desajeitada e acanhada, mas que aos poucos vai sentindo o quanto ela está sendo amada e, por isso, se torna cada dia mais amável e radiante. Ora, para isso, é preciso que deixemos penetrar em nós o amor de Deus e o façamos passar aos nossos irmãos, não em palavras, mas com ações e verdadeiramente.
Padre Pacheco - Comunidade Canção Nova
COMENTÁRIO 2
O que era um fim para os fariseus que programaram a morte de Jesus, na realidade era a glorificação de Jesus em Deus. Judas sai para entregá-lo. Se há um mal na traição de Judas, o mal maior está naqueles chefes religiosos de Israel que articularam a morte de Jesus. Jesus está prestes a terminar sua missão. Dá o maior testemunho: "Prova de amor maior não há, do que doar a vida pelo irmão" (15,13). Toda a vida de Jesus foi um dom ao mundo. Nas comunidades joaninas, às quais João dirige seu Evangelho, diante da ausência de Jesus, os discípulos oram e meditam sobre sua vida e, iluminados pelo Espírito, começam a entendê-lo, particularmente quanto à sua permanência, vivo, entre eles. É a glorificação de Jesus: sua missão cumprida e continuada por seus discípulos, ao longo do tempo e duradoura na eternidade. É a glorificação de Deus. "Filhinhos!" Este diminutivo carinhoso não aparece em nenhum outro Evangelho. Só é usado por João aqui e, com frequência, na sua primeira carta, dirigindo-se às comunidades.
Jesus dá um novo mandamento (entolê). Temos uma referência direta aos mandamentos dados a Moisés no Sinai, e muito decantados no Salmo 119. Jesus faz uma oposição à Lei antiga. Israel, dentre os demais povos, considerados gentios, orgulhava-se e escudava-se na originalidade de seu Deus "único", de sua Lei, de suas observâncias e
cultos. Possuía uma sólida ideologia e teologia do poder e, em nome de seu Deus, exterminava os que eram considerados inimigos. Agora o novo mandamento diferencia-se do antigo. Os sinóticos já anunciavam: a Lei se resume no mandamento de amar a Deus e no "amar o próximo como a si mesmo". Em João a medida do amor é o próprio Jesus. É o mandamento da união no amor com Jesus: amor universal, sem fronteiras, amor que não passa por instituições e é aberto a todos os povos, a todos os homens e mulheres. É o amor que gera a vida eterna. Aos discípulos, às comunidades, é confiado o testemunho deste amor, pelo qual se reconhece a presença de Jesus na história. Este amor concreto, vivido nas comunidades, é a esperança de vida diante dos desafios desumanizantes da sociedade de mercado, idólatra do dinheiro. O anúncio da Palavra e a exortação à perseverança na fé (primeira leitura) geram e orientam as comunidades para viverem, já, a dimensão apocalíptica de "um novo céu e uma nova terra" (segunda leitura).
Autor: José Raimundo Oliva
Fonte: Canção Nova e Paulinas.
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