Deus dá liberdade aos Seus filho

Na liberdade que temos, damos o exemplo e não seguimos as más inclinações deste mundo

“Jesus perguntou: ‘Simão, que te parece: Os reis da terra cobram impostos ou taxas de quem: dos filhos ou dos estranhos? Pedro respondeu: ‘Dos estranhos!’ Então Jesus disse: ‘Logo os filhos são livres’” (Mateus 17, 25-26).

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Tropa de Elite 3: a guerra chegou a São Paulo.

rubens3 Tropa de Elite 3: a guerra chegou a São Paulo

A violência em São Paulo é resultado da disputa entre o PCC, organização que tradicionalmente domina a vida criminosa no Estado, e uma milícia formada por policiais militares, da ativa e aposentados. Essa milícia teria sido criada inicialmente como grupo de extermínio. Se transformou em facção do crime organizado, disputando territórios com o PCC. A mortandade sem fim é resultado disso: uma guerra de gangues. A conclusão é do jornal O Globo, esta semana.

A reportagem revela a disputa dos dois grupos pelo controle das máquinas caça-níqueis da Grande São Paulo. A história foi relatada por um agente de segurança anônimo. A milícia da PM estaria tentando tomar do PCC a receita dos caça-níqueis no bairro de Paraisópolis, considerado o principal mercado de cocaína, por causa da vizinhança do rico Morumbi. Francisco Antonio Cesário da Silva, o Piauí, esse bandido que está no centro das atenções, era chefão justamente em Paraisópolis. Cada máquina fatura entre R$ 4 mil e R$ 15 mil por mês. A íntegra aqui.

O que diz o governo do Estado de São Paulo, responsável pela Polícia Militar? A Secretaria de Segurança nega a existência de milícias em São Paulo. Mas a reportagem de O Globo completa: "Uma fonte do alto escalão do governo, porém, confirmou o conhecimento do grupo e a investigação sobre ele pelas execuções dos últimos dias."Então agora temos milícias em São Paulo. Além de brigar pela grana dos caça-níqueis, onde mais elas têm a mão?

Todos assistimos Tropa de Elite 2 - será que nossa milícia paulistana também ganha dinheiro com gás, TV paga, segurança a comerciantes de bairros pobres, e, claro, tráfico de drogas? Será que ela elege político? Será que elegeu algum vereador na última eleição? Será que ele faz parte da base do prefeito, ou da oposição? E, no final de contas, será que as milícias não são uma alternativa menos ruim que o PCC? Qual é o poder real do PCC? Bem, de tudo que já li sobre o assunto, o mais esclarecedor foi esse longo diálogo entre especialistas na organização, publicado esta semana pelo Estadão. O PCC é bem maior e mais assustador do que nossas autoridades nos levam a crer.

 Tropa de Elite 3: a guerra chegou a São Paulo
Leia aqui, por favor.

O que fazer? Tentadora a solução carioca: vamos fazer UPPs em São Paulo! Vamos botar o exército para invadir e ocupar as favelas. Mas a solução carioca é artifício eleitoral e imobiliário. O Rio tem mais de mil favelas. As UPPs estão em um punhado delas. O deputado carioca Marcelo Freixo, que inspirou o personagem de Tropa de Elite 2 (o político que combate as milícias), e foi candidato a prefeito, escreveu em 2010:

"A milícia é um projeto econômico, a milícia é um projeto financeiro, não é um grupo de justiceiros. Nesse sentido se não cortarmos os braços econômicos eles não serão vencidos, vão continuar crescendo e não adianta o Governador falar meia verdade, dizendo que os líderes foram presos. Foram presos e as milícias continuam muito bem, obrigado. Continuam funcionando, continuam ampliando nos territórios, continuam matando gente à luz do dia. As Zonas Oeste e a Norte estão completamente dominadas pelas milícias... E me estranha muito o Governador tentar simplificar o debate sobre Segurança Pública, dizendo que o Rio de Janeiro é outro porque tem UPPs.

São mais de mil favelas no Rio e as UPPs não chegam a 13 delas. Eu estive hoje no Chapéu Mangueira e na Babilônia. Além da polícia, não há lá qualquer braço do Estado. A creche mal funciona, com o salário atrasado das professoras, o que a Prefeitura não assume. O posto de saúde não tem nenhum médico, nenhum dentista da rede pública do Estado. É mais uma vez a lógica exclusiva da polícia nas favelas – e somente a polícia. O mapa das UPPs é revelador, o setor hoteleiro da Zona Sul, o entorno do Maracanã, a Zona Portuária e a Cidade de Deus – única área dominada pelo tráfico em toda Jacarepaguá, que tem o domínio hegemônico das milícias.

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A UPP é um projeto de cidade. A UPP é um projeto que viabiliza um Rio de Janeiro desejado para os Jogos Olímpicos, onde determinados territórios são escolhidos para um projeto de cidade. Não é um projeto de Segurança Pública! E eu estranho o silêncio desse governo em relação às milícias, dizendo que o Rio está pacificado, diante do crescimento das milícias. E por quê? Por que, indiretamente, nas entrelinhas, o Governador voltou a acreditar que as milícias representam um mal menor? É isso que está sendo dito, porque as UPPs não chegaram às áreas de milícia?"

Será que o governo de São Paulo acredita que as milícias representam um mal menor que o PCC? Torço para que não. A milícia não é melhor que o PCC, é pior - assim como a pena de morte é mais repulsiva do que o assassinato, e o crime cometido pelo policial é mais imoral que pelo bandido profissional. No delito, todos se igualam, mas uns tem a lei a seu lado, impunidade garantida, e verniz de respeitabilidade. E os policiais honestos pagam pelos picaretas. As execuções continuam sem dar trégua, de todos os lados. Todo dia morrem policiais, assassinados em momentos de folga, à paisana, da ativa e aposentados - honestos, bandidos, não sabemos. Todo dia morrem civis - honestos, bandidos, não sabemos. No discurso oficial, todo PM abatido é um herói, e todo civil morto era suspeito. É a chacina nossa de cada dia, com direito a balas inocentes abatendo transeuntes.

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No discurso oficial, não existem  milícias na nossa cidade, e aliás, o secretário de segurança pública diz que o PCC não é ameaça - afinal, seus líderes estão todos presos. Então por que morre tanta gente todo dia nessa guerra sem fim? No que atuam as milícias paulistanas? Que territórios elas controlam? Não sabemos. Esta guerra não chegou ou chegará ao meu bairro. Onde eu moro tem lei, luz, água, posto de saúde, e, sim, policiamento. Lá onde moram os que morrem, o Estado ainda não chegou. Enquanto não compartilharmos a riqueza da cidade (e do País) com a maioria dos paulistanos, a mortandade vai continuar. Esta é a cidade que Haddad herdou. Mesmo não tendo poder sobre a PM, tem obrigação de botar o dedo na ferida. Levar serviços públicos de qualidade, inclusive policiamento, a toda nossa população, pode ser solução de longo prazo. Mas é a única que funcionará de verdade.

Ainda mais se acompanhada por outras duas muito importantes: a dissolução da polícia militar e a legalização das drogas. As outras alternativas são paliativas ou marketing. Em setembro, o Brasil perdeu boa chance de enfrentar a sério este desafio. Dilma Rousseff sancionou a lei que dá pena maior para grupos de extermínio, facções e milícias. Só que a lei é só propaganda. Para não criar uma saia justa política com os governadores, ainda mais em véspera de eleição, Dilma vetou justamente o artigo mais importante da lei, o que tipifica esse crime como federal. Com isso, a presidente manteve o poder de investigação com a polícia de cada Estado. Fica tudo sobre controle de cada governador, e portanto, do seu secretário de segurança, e do seu comando das polícias. Não é pra valer. A lei sancionada é do deputado Luiz Couto, do PT da Paraíba. Está com a cabeça a prêmio. Só anda escoltado pela Polícia Federal, e com colete a prova de balas.

Fonte: Blog de Andre Forastieri.

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