05/12/2010 – 15:54
Cláudio Guimarães e José Augusto Cutrim foram avisados pela Polícia das ameaças.
O Estado
SÃO LUÍS - Cláudio Guimarães, da 2ª Promotoria de Investigação Criminal, e José Augusto Cutrim, da 17ª Promotoria da Ordem Tributária, disseram ter sido avisados pela Polícia Civil para que ficassem em alerta, mas pretendem continuar o trabalho
Os promotores estão sob ameaça de quadrilhas que comandam jogos de azar e caça-níqueis em São Luís.
As ameaças - inclusive de morte - foram interceptadas pelo Serviço de Inteligência da Polícia Civil. Os promotores foram comunicados por policiais que investigam os grupos que controlam a jogatina eletrônica em bingos na capital. "Os delegados nos informaram das ameaças. Na verdade, nos alertaram para ficarmos mais espertos. Para que tenhamos mais cuidado", contou Guimarães.
Eles não revelam se mudaram a rotina e nem se as ameaças prosseguem. Augusto Cutrim disse que tomou alguns cuidados, mas não expôs o que alterou no seu dia a dia. Já Cláudio Guimarães afirmou que está mais atento com os motoqueiros no trânsito. "Estou mais atento, mais ligado no trânsito, principalmente com motoqueiros. Também passei a usar uma arma", disse.
Há um mês, os promotores estiveram reunidos com a procuradora-geral de Justiça Maria de Fátima Travassos para tratar do assunto. A Assessoria de Comunicação do órgão informou que a procuradora está viajando para a Espanha, e não confirmou o que fora tratado na reunião.
Cláudio Guimarães e Augusto Cutrim também oficiaram ao comando da Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) solicitando um grupo de trabalho para atuar contra o esquema de caça-níqueis e pirataria no Maranhão.
"Fizemos o documento solicitando a formação do grupo de trabalho com nove promotores para atuar nesses casos. Estamos aguardando uma definição da procuradora", afirmou Cutrim.
Segundo a assessoria da PGJ, há um esforço concentrado no Ministério Público (MP) - que inclui o trabalho dos promotores Cláudio Guimarães e Augusto Cutrim - para formar uma força-tarefa para combater o crime da pirataria e jogos de azar no estado.
O promotor Augusto Cutrim informou que a solicitação encaminhada à chefia do MP é de institucionalização no combate à pirataria e aos jogos de azar. "Constituindo o grupo de trabalho, o MP despersonaliza as ações de combate e as investigações. É essa nossa solicitação para uma situação que é complexa",explicou o promotor da 17ª Promotoria da Ordem Tributária.
Para Cláudio Guimarães, uma ação institucional do MP contribuiria muito para enfraquecer os grupos que comandam os jogos de azar e a pirataria no Maranhão. "Essas quadrilhas estão preocupadas, incomodadas com o trabalho que fizemos em parceria com a Polícia Civil. Se o MP formar esse grupo de trabalho, quebramos esses esquemas", disse Guimarães.
Investigações da polícia e do MP descobriram que os jogos de azar são controlados por quatro pessoas no estado. Além de controlar as máquinas de caça-níqueis, elas atuam associadas a esquemas de pirataria, importação ilegal e até tráfico de entorpecentes.
Pessoas que atuavam com esse tipo de jogo morreram
Cláudio Guimarães e Augusto Cutrim não revelaram o conteúdo e como as ameaças chegam até eles, mas, nos últimos meses, três pessoas que atuavam com caça-níqueis foram assassinadas em São Luís.
Neste ano, operações realizadas pelo Ministério Público (MP) e pela Polícia apreenderam mais de mil máquinas caça-níqueis. A última apreensão ocorreu no mês de setembro em uma casa de jogos no bairro São Francisco, quando foram recolhidas 85 máquinas.
Cada uma custa, em média, R$ 3.500,00. "Eles tiveram um prejuízo de cerca de R$ 5 milhões, contando o valor das máquinas e o faturamento que esses grupos têm com a exploração do jogo", disse Guimarães. Cada máquina rende aproximadamente R$ 1 mil por dia.
Em uma das operações do Ministério Público e da Polícia Civil foi encontrado o livro-caixa com a movimentação de uma casa de jogos no São Francisco. Em apenas três dias, as anotações apontavam uma movimentação de R$ 420 mil, o que representava um ganho diário de R$ 140 mil.
O MP já identificou as quatro pessoas que comandam o jogo de caça-níqueis e parte da pirataria da capital. Segundo Augusto Cutrim, dois deles já chegaram a ser presos pela polícia.
"A criação da força-tarefa pelo MP possibilitaria não apenas desvendarmos essa rede criminosa, como investigar outras frentes, pois temos denúncias de corrupção de policiais", contou Guimarães. Na última operação, dois PMs, que faziam a segurança da casa de jogos no São Francisco, acabaram sendo presos.
"Há um número grande de policiais que atuam na proteção dos esquemas de caça-níqueis. Na última operação, tivemos dois PMs presos. A corrupção assegura a proteção e enfraquece o sistema", afirmou Guimarães.
Há indícios de que o esquema que controla os jogos de azar pague R$ 90 mil mensais para que policiais atuem na segurança das lideranças dos negócios e das casas de jogos.
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