02/10/2011 - 22:19 - Atualizado em 02/10/2011 - 22:25
Imagens exibidas no Fantástico indicam preparativos para emboscada.
Juíza Patrícia Acioli foi assassinada em Niterói em 11 de agosto.
Do Fantástico
A juíza foi assassinada 11 de agosto, ao chegar a sua casa em Niterói, Região Metropolitana do Rio.
As imagens inéditas, gravadas às 15h45 do dia em que Patrícia foi morta, mostram um homem caminhando na ponte de acesso ao condomínio onde a juíza será assassinada à noite. É o tenente Daniel Benitez, do Batalhão da Polícia Militar de São Gonçalo. Ele entra no condomínio, atravessa a rua principal e se dirige à Rua dos Corais, onde Patrícia morava. Benitez tem a cobertura do cabo Sérgio Costa Júnior, também do 7º batalhão.
Às 16h10, a motocicleta pilotada por Sérgio faz o mesmo caminho. Cinco minutos depois, os dois deixam juntos o lugar. Benitez ainda está a pé. Sérgio, na moto, segue na frente. Sete horas depois, os dois dispararam 21 tiros contra a juíza, segundo investigações.
Benitez usa calça jeans clara, casaco escuro e tênis branco. À noite, está vestido igual, como o Fantástico mostrou há duas semanas.
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Ao todo, os dois policiais passam meia hora estudando pela última vez o local onde planejam executar o crime.
Delação premiada
A polícia chegou a essas imagens depois que o cabo da PM que estava na garupa da moto e foi um dos autores dos disparos que mataram a juíza fez um acordo de delação premiada. Ele contou detalhes do crime em troca da redução da pena.
Pouco depois das 23h, a juíza deixou sua sala no Fórum de São Gonçalo e dirigiu 29 km sem perceber que estava sendo seguida pela moto de Benitez e Sérgio. Agora, sabe-se que o esquema era ainda maior. Um carro também estava no fórum, vigiando a saída da juíza.
A moto demorou a pegar, e é o carro que começou a seguir a juíza. No carro, estava o cabo Jovanis Falcão Júnior. O carro saiu da perseguição quando é alcançado pela moto onde estavam Benitez e Sérgio, o cabo que fez a delação premiada.
Em entrevista exclusiva ao Fantástico, o policial Sérgio revelou que todos os detalhes foram checados naquele dia porque, sem saber do perigo que corria, a juíza já havia escapado de duas emboscadas naquela semana. "Porque ela tinha cancelado uma reconstituição", contou o cabo. "(A outra tentativa) eu não me recordo, mas ela tinha saído mais cedo, dentro da mesma semana."
Cabo teme por família
Apesar de já ter tido sua imagem divulgada, o policial pediu para seu rosto não ser mostrado durante a entrevista. Ele contou que a mulher dele não sabia da sua participação no crime. “Só ficou sabendo no fórum, quando eu fui fazer o acordo (da delação premiada). Temo (pela segurança dela e da minha filha), porque saiu nos jornais que foi por causa do meu depoimento que o coronel foi preso. Na verdade eu não citei o nome do coronel. Quem falou o nome do coronel foi o tenente Benitez.” O tenente Benitez é o condutor da moto.
O coronel Cláudio Oliveira era o comandante do 7º batalhão. Ele foi preso no dia 27 de setembro, acusado de ser o mentor do crime.
Outro cabo, Jeferson Miranda, que também fez acordo de delação premiada disse, em depoimento, que ouviu do tenente que o coronel sabia do desejo dele de matar a juíza. E ainda teria dito ao tenente: “você me faria um grande favor”.
Perguntado quando foi a primeira vez que ouviu falar sobre assassinar a juíza Patrícia Acioli, o cabo conta: “Em abril ou maio ele (o tenente) trouxe a ideia para dentro da equipe do GAT”.
Grupamento de Ações Táticas é preso
GAT é o Grupamento de Ações Táticas, uma espécie de tropa de elite em cada batalhão da PM no Rio. Todos os nove homens do GAT de São Gonçalo estão presos. O cabo Sérgio confessou ser o homem que atirou com duas pistolas - calibres 40 e 45. E apontou o tenente como autor dos tiros de revolver calibre 38.
“Muito arrependido, muito arrpendido. Alguns minutos depois já estava arrependido”, disse o cabo, contando sobre como se sentiu após o crime.
Logo depois do assassinato da juíza, o tenente, os dois cabos e cinco policiais foram presos pela morte de um jovem em São Gonçalo. A prisão tinha sido determinada pela própria Patrícia Acioli minutos antes de morrer.
De dentro da prisão militar, o tenente fazia ligações, que a polícia estava gravando com autorização da Justiça.
Em uma das ligações, o tenente perguntava: “Sabe se alguém do batalhão vem me visitar aqui nesse final de semana, para eu organizar aqui as visitas?"
“O ‘01’ falou que vai aí, cara, amanhã ou depois. E pediu pra que os oficiais fossem também para poder dar um apoio moral a vocês, entendeu?”, diz a pessoa na linha.
"Sempre bom receber os amigos. Tranquilo”, diz o tenente. ‘01’ era o coronel Cláudio.
O cabo confirmou a visita do coronel à prisão. “Ele fez uma reunião com todos, dando a palavra de conforto e que isso ia passar. Depois que todos saíram, só ficou o tenente conversando com eles, não sei quanto tempo”, contou.
'Mais umas feriazinhas', diz tenente sobre prisão
No Batalhão Especial Prisional, a cadeia da PM, o tenente não se sentia preso, como mostra uma conversa com a mãe.
“Corre o risco de vocês fugirem daí? Como é que você sai daí, meu filho?” - pergunta a mãe do tenente ao telefone.
“Pô, mãe, isso aqui é a coisa mais fácil de fugir que tem no mundo, é que ninguém quer. Daqui a pouco eu devo estar saindo. Mais umas feriazinhas”, respondeu.
Férias com festa, cerveja: "Arruma uma bolsa de viagem aí, vê se consegue trazer umas seis ou oito caixas. Pode ser latão, tanto faz, qualquer coisa", pede o tenente a uma pessoa no telefone.
"Você quer seis a oito caixas? Como é que eu vou botar isso numa bolsa de viagem, filho?", pergunta.
"Ah, bota o que der, bota o que der. Bota duas garrafas de vodca também", responde o tenente.
'Espólio de guerra'
Chefiando o GAT, o tenente estava acostumado a pegar o que queria. Os cabos confessaram que o grupo tinha um esquema de corrupção. Eles tomavam armas, drogas e dinheiro dos traficantes, e chamavam isso de espólio de guerra.
O cabo contou: “Uma vez o tenente reservou uma parte do espólio para o coronel. Se entregou ou não, não tenho como te afirmar.”
O outro cabo disse que o movimento semanal era de entre R$10 e 12 mil. O que passava disso, ia para o coronel.
"A Patrícia tinha um objetivo, que era pegar o comandante do batalhão por todo o comando de corrupção que ele fazia na comarca de São Gonçalo. Ele era o alvo da Patrícia. Por isso ela foi morta, porque ela colocou em risco o faturamento do batalhão”, explicou o desembargador Antônio Siqueira, presidente da Associação de Magistrados do Rio de Janeiro.
Naquela noite a juíza saiu sozinha do fórum. Sozinha fez todo o percurso, e sozinha estava quando caiu na emboscada em frente à casa dela. Como uma mulher que tinha mandado mais de 60 policiais para a cadeia e estava ameaçada de morte, estava sem escolta? Depoimentos e documentos reunidos pela polícia começam a esclarecer também essa questão.
Comandante-geral pediu demissão
Em janeiro, o coronel Cláudio transferiu os últimos dois policiais que faziam a escolta da juíza. Um deles, o cabo Poubel, namorado de Patrícia Acioli. No boletim interno da Polícia Militar, uma observação: os dois só poderiam sair dos novos postos com autorização do comandante-geral da PM.
O coronel Mário Sergio Duarte pediu demissão depois que o coronel Cláudio foi preso.
O coronel Mário Sérgio, que está se recuperando de uma cirurgia, disse por telefone que a responsabilidade pela segurança de magistrados é do Tribunal de Justiça. E que é o tribunal que escala PMs, cedidos por convênio. No caso dos dois seguranças da juíza, o coronel disse que eles foram transferidos de volta para a rua junto com outros PMs que estavam fazendo segurança de autoridades sem estarem formalizados por convênio.
Sobre o fato de que a transferência desses dois praças só poderia ser feita com autorizaçõ experessa dele, o coronel disse que isso era uma forma de protegê-los, para eles não serem transferidos para o interior do estado.
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